quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Os Sete Pecados Capitais da Leitura Bíblica


A Bíblia Sagrada é fonte de sabedoria, meditação e estudos. Porém lida sem nenhuma orientação e fora do contexto que foi escrita, pode causar problemas quanto ao real significado ao qual representa. O resultado disso é a criação de cada vez mais denominações cristãs que se espalham pelo mundo afora, muitas vezes pregando ensinamentos completamente distintos e antagônicos um dos outros. Por isso a função da Igreja Católica, através da Tradição e do Magistério, em união com a Sagrada Escritura se faz tão necessário, para dar sentido a tudo que foi escrito da maneira para qual foi escrito. Hoje falaremos então sobre os problemas causados pela leitura incorreta ou sem orientação da Bíblia, e suas consequências que muitas vezes hoje nos deparamos. São demonstrados então aqui os sete pecados da leitura bíblica, como identificá-los e é claro, como evitá-los.




1 – Leitura Fundamentalista


O que é:
Interpretar o texto sagrado ao pé da letra, sem levar em conta o que o texto diz por trás das palavras;

Exemplos:
Incesto -  Gn 19, 30-36;
Aborto -  Ecl 6, 3-4;
Trapaça -  Gn 27, 1-36;
Homossexualismo -  1Sm 20, 16-17.

Sintomas:
Fanatismo – defesa violenta das próprias ideias sobre a Bíblia; colocá-la acima dos principais valores humanos; Intolerância com pessoas e grupos que interpretam de forma diferente os mesmos textos.

Como evitar:
Não impor aos outros suas próprias ideias;
Deixar-se questionar pelas ideias dos outros;
Levar em conta o contexto em que os livros surgiram;
Descobrir nos textos o que há de simbólico, poético, etc.




2 – Leitura Apologética


O que é:
Usar textos para defender ideias ou doutrinas que não estão presentes neles.

Sintomas:
Tradicionalismo – colocar a religião, a doutrina e os ritos acima da busca da Verdade e da defesa da Vida; Medo de descobrir nos textos dados novos e diferentes que questionam parte da tradição recebida.

Como evitar:
Abrir-se ao novo trazido pela realidade e pela Palavra;
Ler não apenas o trecho selecionado;
Descobrir livros e textos relacionados para ampliar a visão;
Não ser submisso à interpretação já pronta dos livros;
Ter espírito de busca e pesquisa;
Ser fiel ao conteúdo dos trechos estudados.


3 – Leitura Intimista

O que é:
Interpretar os textos exclusivamente em benefício pessoal;
Achar-se o único destinatário da Palavra.

Sintomas:
Emocionalismo – ler só com o coração, sem usar a cabeça, como se a Bíblia fosse um livro de autoajuda; Absolutizar textos agradáveis e negar textos mais duros.

Como evitar:
Abrir-se à dimensão social e comunitária da Bíblia;
Não ler sozinho, mas buscar opiniões dos outros;
Procurar ampliar amplamente a Bíblia, e ler também os textos que parecem, à primeira vista, distantes de sua realidade pessoal;
Respeitar a autonomia do texto, ou seja, reconhecer que ele foi escrito para outras pessoas, numa situação histórica diferente da sua.



4 – Leitura Esotérica

O que é:
Usar a Bíblia como se fosse um livro de fórmulas mágicas, de ciências ocultas.

Sintomas:
Misticismo – crer que existem na Bíblia conhecimentos acessíveis somente a poucos privilegiados;
Citar versículos isolados como se fossem palavras mágicas; Usar a Bíblia para fazer previsão do futuro.

Como evitar:
Não ler a Bíblia para adivinhar o futuro ou como se os textos do Antigo Testamento fossem apenas anúncios do que aconteceria na época de Jesus;
Ser fiel ao conteúdo dos trechos estudados;
Não usar versículos bíblicos isolados, desvinculados de seu contexto;
Ter humildade e reconhecer que toda interpretação da Palavra deve estar de acordo com o projeto de Deus.




5 – Leitura Reducionista


O que é:
Reduzir os textos sagrados à dimensão religiosa;
Desrespeitar seus aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais.

Sintomas:
Devocionismo – achar tudo bonito, correto e piedoso, sem levar em conta as fraquezas do povo de Deus; Conservadorismo religioso; Falta de consciência social; Falta de confiança no ser humano.

Como evitar:
Lembrar-se de que Deus é Deus em todas as dimensões da vida, não só a religião;
Valorizar as diversas dimensões da vida (política, economia, cultura, afetividade, etc.) como queridas por Deus e importantes para a felicidade humana;
Interpretar os textos tendo em mente as várias dimensões da vida.




6 – Leitura Materialista


O que é:
Interpretar a Palavra de uma forma puramente científica;
Negar a inspiração divina dos textos.

Sintomas:
Intelectualismo – ler só com a razão, sem usar o coração, como se a Bíblia fosse um baú de fósseis; Usar a Bíblia só para estudar as civilizações antigas, sem interesse nas civilizações humanas de hoje.

Como evitar:
Cultivar a leitura orante da Bíblia, em intimidade com Deus, invocando sempre (na oração ou no mero estudo) o Espírito Santo;
Buscar o bem comum e a defesa da vida em primeiro lugar, em obediência ao Deus da Vida;
Reconhecer com humildade a presença do Deus vivo na História e colocar-se a serviço Dele na luta pela Justiça.




7 – Leitura Espiritualista


O que é:
Ler a Bíblia e a vida com os olhos voltados para a salvação pessoal, sem preocupação com a vida do irmão.

Sintomas:
Moralismo – dar mais importância ao bom comportamento que ao bem do ser humano;
Colocar a lei acima da vida; Desprezo pelo corpo humano e pela afetividade.

Como evitar:
Ler com os pés no chão, lembrando que não há alma sem corpo e nem corpo sem alma;
Ler com a preocupação de melhorar o aqui-e-agora de toda a humanidade por menos santa que ela seja.


Bons estudos!!!

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Características históricas dos Evangelhos Sinópticos

Os Evangelhos sinópticos ("syn" («junto») e οψις, "opsis" («ver»)) possuem estruturas bem parecidas, sendo o livro de Marcos, amplamente reconhecido academicamente como o mais antigo dos três. São chamados assim porque possuem a mesma visão em diferentes trechos narrados, provavelmente porque veem da mesma fonte, o que justifica a similaridade entre os mesmos. Um estudo realizado sobre os sinópticos no início do século XX mostrou características semelhantes nos livros de Mateus e Lucas, herdados de Marcos e de outra suposta fonte, batizada de "fonte Q" (Q do alemão quelle). Essa fonte mesmo hipotética pode ser o elo de construção dos sinópticos, mesmo sem muitos dados a seu respeito. A fonte Q seria uma possível coleção de ditos primitivos de Jesus, guardados pela comunidade cristã e depois unificados nos sinóticos. O erudito britânico anglicano Burnett Hillman Streeter formulou uma visão amplamente aceita de '"Q": era um documento escrito (não uma tradição oral) composto em grego; quase todo o seu conteúdo aparece em Mateus, em Lucas ou em ambos; e que Lucas preservou, mais do que Mateus, a ordem original do texto.





Visto que muitas pessoas têm dificuldade (principalmente exegética) para se localizarem no contexto em que os escritos foram elaborados, resolvi reagrupar de maneira sistemática em tópicos para de compreensão rápida dos escritos, para que sirva de "norte" para os estudos em Sagrada Escritura.


Características do Evangelho de Mateus


• Teria sido escrito por volta do ano 80 D.C. na Síria, são se sabe se realmente foi escrito pelo apóstolo Mateus
• Mateus (ou Levi) era galileu e cobrador de impostos. Ele conheceu Jesus e sua história de conversão é contada no evangelho (c.f. Mt 9, 9-13).
• Mateus busca situar Jesus na história do povo hebreu.


• O texto foi escrito para judeus convertidos, principalmente do norte de Israel, por isso há tanto ênfase em justificar Jesus como o Messias esperado pelos judeus através da Lei como na raiz genealógica (Mt. 1), as citações aos profetas (Mt 2), etc.
• Mateus é o único que utiliza a expressão "Reino dos Céus" nos quatro evangelhos (os demais cronistas utilizam "Reino de Deus"). Se você ouviu ou leu em alguma exortação, com certeza é do evangelho de Mateus.
• Ele é muitas vezes bem rígido com as pessoas no qual está passando a mensagem.
• Mateus faz uma crítica muito forte à sinagoga, sempre colocando seus membros em condição de crítica.


Características do Evangelho de Marcos


• Escrito por João Marcos por volta ano 65 D.C. Sendo o evangelho mais antigo escrito, porém não o livro mais antigo do Novo Testamento (As cartas de São Paulo são mais antigas ainda).
• João Marcos era grego e discípulo de Pedro em Roma (c.f. 1Pd 5, 13).
• João Marcos não conheceu Jesus pessoalmente, porém conforme a tradição eclesial, ele era filho de certa Maria, cuja casa se reunia a comunidade de Jerusalém (c.f. At 12, 12).
• João Marcos era primo de Barnabé e foi colaborador de Paulo tal como intérprete de Pedro (c.f. At 13, 5).
• Seu evangelho por ser mais antigo, não seguiu nenhuma fonte literária existente.
• Marcos escreve como um "repórter". Busca situar Jesus na vida das comunidades.


• Existe uma divergência sobre o local de sua composição, sendo que alguns estudiosos acreditam que sua composição tenha sido na região da Galileia, já que o autor dá maior importância à região, enquanto outros tomam partido que ele teria sido escrito já em Roma, junto com a comunidade petrina, isso se deve ao fato de Marcos utilizar diversas expressões latinas comuns como legião, quadrante ou centurião. Por esse motivo seu foco é dizer "Quem é Jesus", ignorando assim, acontecimentos de sua infância e vínculos vetero-testamentários, como no caso de Mateus, e partindo para Jesus no início de sua pregação e revelação (com o seu batismo no Rio Jordão c.f. Mc 1).


Características do Evangelho de Lucas


• Escrito por volta do ano 90 D.C. na Grécia. Sendo o último dos evangelhos a ser escrito.
• Lucas segundo a tradição era um médico grego, e por ser letrado, possui uma riqueza narrativa superior aos demais cronistas.
• Lucas foi convertido por Paulo, não conheceu pessoalmente Jesus Cristo e nunca esteve na Palestina, por isso alguns erros geográficos nos seus relatos são cometidos (c.f. Lc 4, 31-38/ Lc 24, 13).
• Lucas busca situar Jesus na história da Humanidade.


• Lucas age como um repórter, investigando os fatos e tendo como foco explicar como é Jesus Cristo, por isso há tantos detalhes sobre seu nascimento principalmente, sendo escrito para a comunidade grega.
• A tradição também diz que ele pode ter convivido com Maria, sendo cronista direto de sua versão, uma vez que narra detalhes mais íntimos da vida da Virgem - como a visita do arcanjo Gabriel e a visita a Isabel (c.f. Lc 1-2) - que aparecem somente em seu evangelho.
• Lucas é o mesmo autor dos Atos dos Apóstolos.


Espero que as informações lhes ajudem a entender melhor e dar uma perspectiva mais concreta a respeito dos evangelhos sinóticos!

Bons estudos e Fiquem com Deus!